A
leitura que a criança faz dos fenômenos naturais, das interações e das
transformações no ambiente pode ter uma lógica diferente da lógica da ciência.
Essa forma usada pela criança para dizer o que entende e como explica essas
questões, denominadas conhecimentos intuitivos, ideias prévias ou concepções
alternativas, deve ser o ponto de partida para maior sistematização do ensino
de ciências na escola.
É importante que o aluno perceba que as ideias que ele apresenta podem ser insuficientes para explicar os fenômenos, mesmo que inicialmente lhe satisfaça a curiosidade, sendo necessário redimensionar suas explicações.
As intervenções e a postura do professor são imprescindíveis e determinantes. O professor deve estimular o questionamento das situações e as interpretações apresentadas pelos alunos, para que eles sintam necessidade de rediscuti-las, reconstruí-las ou ampliá-las.
A problematização busca promover a mudança conceitual. O aluno não abandona elementos substanciais do conceito anterior, enquanto incorpora, gradualmente, novo conceito. A aprendizagem, não se dará por substituição do conceito anterior, mas por reestruturação das leituras significativas realizadas pela criança, com base na percepção de que o seu modelo não é suficiente para explicar a situação problematizada e situações futuras.
É importante, que o professor respeite a construção do conhecimento pelo aluno, permitindo, durante o seu processo de escolarização, que não termina no ano em curso, que ele amplie sua visão e as explicações sobre temas em estudo, num processo permanente de confronto entre diferentes ideias. Para isso, é desejável que várias estratégias e recursos didáticos sejam utilizados pelo professor. Cabe-lhe selecionar os conteúdos e as estratégias de ensino que serão utilizadas em sala de aula, pensando em situações para apresentar o problema inicial, como motivar o estudo do tema, verificar o que os alunos já sabem a respeito do tema ou outros conhecimentos a eles relacionados, que recursos utilizar para tornar a aula mais interessante e motivadora.
Considerando questões pertinentes à organização e à preparação de suas aulas, apresentamos, a seguir, algumas reflexões sobre a atividade experimental que, quando bem planejada, constitui um excelente recurso didático para investigação dos fenômenos naturais e iniciação cientifica dos alunos.
A experimentação favorece os questionamentos e a busca pelo conhecimento, permitindo a inter-relação do aprendido com o que é visto na realidade. Isso requer do professor sensibilidade, senso de observação e metodologias adequadas para que as crianças, cheias de vontade, curiosidade e dotadas de conhecimentos, concepções e representações prévias, sejam orientadas na construção de novos conhecimentos de forma plausível, inteligível e frutífera.
Muitas vezes, a atividade experimental constitui-se de um protocolo ou guia preestabelecido para demonstrar o fenômeno que se quer observar. Essas demonstrações podem ser coletivas, quando envolvem materiais perigosos ou quando não há material disponível a todos.
Segundo o PCN - Ciências Naturais (1997),
Nesse caso, considera-se que o professor realize uma demonstração
para sua classe, e a participação dos alunos resida em observar e acompanhar os
resultados. Mesmo nas demonstrações, a participação dos alunos pode ser
ampliada, desde que o professor solicite a eles que apresentem expectativas de
resultados, expliquem os resultados obtidos e compare-os ao esperado. (BRASIL,
1997)
Dentro dessa perspectiva uma atividade experimental deve ter os objetivos definidos e explicitados tanto para o professor como para os alunos, que devem participar da atividade expressando previsões dos resultados, explicações do ocorrido e comparações com o resultado previsto. As experimentações realizadas devem ser de tal modo que promova uma participação ativa e curiosa das crianças, possibilitando-lhes o prazer de fazerem descobertas pelo próprio esforço.
Ainda segundo o PCN - Ciências Naturais (1997),
Os desafios para experimentar ampliam-se quando se solicita aos
alunos que construam o experimento. As exigências quanto à atuação do
professor, nesse caso, são maiores que nas situações precedentes: discute com
os alunos a definição do problema, conversa com a classe sobre materiais
necessários e como atuar para testar as suposições levantadas, os modos de
coletar e relacionar os resultados. (BRASIL, 1997)
A
atividade experimental, nesse caso, envolve a problematização e torna-se ainda
mais desafiadora, supondo um planejamento conjunto entre professor e alunos.
Juntos, eles definem o problema, levantam o material necessário,elaboram o
protocolo ou guia, discutem as hipóteses sobre o resultado esperado e analisam
esse resultado, comparando-o com as hipóteses iniciais, redimensionando a
atividade. Sob essa perspectiva, não existe atividade experimental que não dê
certo. A cada resultado, as variáveis serão estudadas e reinterpretadas no
contexto de estudo e de pesquisa. Uma atividade assim desenvolve a percepção
sensorial da criança, permitindo-lhe investigar fatos por meio do que foi
vivenciado.
Ao planejar uma atividade experimental com os seus alunos, é interessante pedir-lhes que registrem o objetivo da experimentação, o que vão fazer, que materiais serão utilizados, quais as previsões de resultados e o que poderá acontecer.
A participação de alunos e professor no planejamento e realização das atividades experimentais possibilita avanços nos conhecimentos anteriores. As atividades experimentais não constituem um recurso autoexplicativo, dependem da mediação do professor que detém o conhecimento em discussão de maneira mais elaborada.
Existem várias orientações para o desenvolvimento desta atividade, entretanto não se pode deixar de considerar aspectos como:
•
problematizar o assunto a ser investigado;
•
registrar as hipóteses dos alunos sobre possíveis resultados;
•
analisar os resultados e comparar com as previsões;
•
discutir o porquê de resultados não previstos;
• relacionar
o aprendido ao cotidiano dos alunos, isto é, deve permitir que ele o relacione
com a leitura que faz do mundo.
Texto organizado pelas autoras tendo como fonte o livro: Um olhar comprometido com o ensino de ciências / Amélia Porto, Lízia Ramos, Sheila Goulart. - 1. ed. - Belo Horizonte : Editora FAPI, 2009.