Nos anos iniciais do ensino fundamental, o trabalho
com Ciências exige que se respeitem as especificidades da faixa etária. Embora o conhecimento científico aconteça de diversas formas e em
diferentes ambientes, é na escola que os conceitos científicos são normalmente
introduzidos de forma sistematizada. Durante um bom tempo e ainda hoje, de
forma menos significativa, acreditou-se que a iniciação ao mundo da ciência só
deveria ocorrer após o processo de alfabetização e iniciação matemática,
ficando, portanto, o seu aprendizado postergado aos anos intermediários e
finais do ensino fundamental. Entre as correntes que defendem essa posição, está
aqueles que acreditam que o conhecimento científico é inacessível à compreensão
das crianças, dada sua complexidade. Essa afirmação comporta não somente a
incompreensão das características psicológicas do pensamento infantil, mas,
também, a desvalorização da criança como sujeito social:
É
importante, no entanto, que o professor tenha claro que o ensino de ciências
não se resume à apresentação de definições científicas, em geral
fora
do alcance da compreensão da criança. (BRASIL, 1997, p. 34).
Diferentemente do que muita gente pensa, isso não
significa substituir os termos científicos ou inundar os textos com diminutivos
na esperança de que as crianças entendam melhor. É importante não simplificar
conceitos nem infantilizar. Os conhecimentos científicos têm para a vida
das crianças grande importância, principalmente quanto às demandas sociais em
decorrência do desenvolvimento tecnológico e científico. A criança constrói
seus conceitos e apreende de modo mais significativo o ambiente que a rodeia,
mediante a apropriação e a compreensão dos significados apresentados no ensino
de ciências naturais.
Por outro lado, os alunos encontram não apenas dificuldades conceituais, mas enfrentam problemas no uso de estratégias de raciocínio e solução de problemas, próprios do trabalho científico, que precisam ser consideradas. As estratégias de ensino usadas nas aulas de ciências, assim como nas demais disciplinas escolares, devem ser planejadas de modo que as ideias, as teorias e o conhecimento que os alunos trazem com eles possam ser aproveitados, completados e desenvolvidos. A aprendizagem consistente de novos conteúdos requer mudanças conceituais similares àquelas observadas na produção do conhecimento científico em que hipóteses e teorias anteriormente vigentes são reformuladas ou substituídas, envolvendo rupturas e mudanças de rumo. Assim, durante o processo de aprendizagem, espera-se que, ao longo do tempo, o indivíduo abandone concepções inadequadas do ponto de vista científico e as substitua por concepções cientificamente aceitáveis.
Para que tais mudanças se efetuem efetivamente consideramos imprescindível que o ensino:
• estimule a participação do aluno;
• considere as experiências vivenciadas;
• possibilite a construção do conhecimento, mediante a produção de
conflitos cognitivos em que o aluno perceba a inadequação de suas teorias atuais
em relação aos problemas propostos, estimulando-o refletir, questionar, buscar
informações, enfim, investigar;
• busque respeitar a organização interna da ciência sem
desconsiderar a lógica do pensamento infantil, em que a aprendizagem de
conceitos ocorre por etapas de estruturação progressiva, portanto, à proposição
de problemas devem ser relevantes para os alunos e estarem relacionados a
conhecimentos já apreendidos e em nível compatível com sua compreensão;
• crie condições para que o aluno se desenvolva e se aperfeiçoe de
maneira integrada, contínua e progressiva ao longo de sua escolarização, pois o
processo de aquisição de conhecimentos envolve etapas sucessivas de construção,
desconstrução e reconstrução, em que as ideias iniciais são gradativamente
complementadas, ampliadas, testadas, reformuladas, rejeitadas e substituídas,
num processo complexo que se estende quase que indefinidamente;
• aborde os conteúdos de forma recursiva, reforçando a ideia de
que os conhecimentos adquiridos na escola passam por um processo de construção
e reconstrução contínua e não por etapas fixadas e definidas no tempo;
• selecione conteúdos que se articulam com as necessidades, experiências
e vivências individuais e coletivas, próprias da idade;
• considere os conceitos estruturadores do ensino de ciências
(diversidade, espaço e tempo, transformação dentre outros) como os
articuladores dos conhecimentos que compõem as ciências naturais, buscando o estabelecimento
de relações entre os diferentes conteúdos;
• associe teoria e prática;
• apresente um mesmo conceito em diferentes momentos e em
diferentes níveis de elaboração ao longo do processo de escolarização, para que
o aluno possa aprofundar e ampliar sua visão sobre o mundo científico.
Por
outro lado, é desejável que várias estratégias e recursos didáticos sejam
utilizados pelo professor. Cabe-lhe selecionar os conteúdos e as estratégias de
ensino que serão utilizadas em sala de aula, pensando em situações para apresentar
o problema inicial, como motivar o estudo do tema, verificar o que os alunos já
sabem a respeito do tema ou outros conhecimentos a eles relacionados, que
recursos utilizar para tornar a aula mais interessante e motivadora.
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