quarta-feira, 16 de maio de 2012

Concepção de ciência, Princípios da investigação científica e ciência escolar


          A validade dos avanços científicos, seja do ponto de vista prático, seja do filosófico, vem sendo colocada em questão em diversas situações. Por outro lado, muitas vezes, acredita-se firmemente que o conhecimento científico é exato, neutro e o mais benéfico para a humanidade. A primeira posição peca por ser pouco fundamentada, enquanto a segunda já não se justifica, em nossa época, pela ingenuidade. Permeando essas duas concepções aparentemente antagônicas, existe o percurso histórico do conhecimento científico. Concebemos a ciência como a construção do conhecimento científico em um processo histórico, contextualizado em um tempo e espaço definidos, e, portanto, suscetível a mudanças. Entendemos que os conceitos científicos são elaborados pelo ser humano diante de suas necessidades concretas de existência e que, nesse processo de construção, cada novo conhecimento gera conflitos, exige escolhas.

          Assim, por ser uma construção humana, uma forma simbólica criada pelo homem, contém as contradições inerentes ao ser humano.

           A construção do conhecimento científico acompanha a história da humanidade e, ao longo do tempo, tem se organizado em torno de alguns princípios:

• Constitui-se em uma produção humana de domínio público, que não se confunde com palpite ou opinião e pode ser confirmado e/ou negado por outros pesquisadores.

• Caracteriza-se por uma estrutura sistemática traduzida em sistemas de classificação, diagramas, gráficos, tabelas, conjuntos de leis ou pressupostos teóricos.

• Utiliza instrumentos específicos, indo além dos sentidos humanos, produzindo conhecimento de longo alcance tanto para o infinitamente grande como para o infinitamente pequeno.

• É econômico, uma vez que permite generalizações por meio de conceitos unificadores que devem ser mantidos em aberto, possibilitando alterações quando novos conhecimentos as exigem.

• Permite, numa leitura matemática, a mensuração da realidade por meio de medidas (de tempo, temperatura, distância entre outras), transformando qualidades em quantidades.

• É uma realidade que articula dialeticamente teoria e instrumentos num processo de criação mental e material que se efetiva em determinado espaço social.

• Exige dos pesquisadores a definição do objeto da ciência a ser investigado para fazer avançar o conhecimento de determinado aspecto da realidade.

           Explicitada a concepção de ciência e dos princípios da investigação científica, fazemos algumas considerações: embora a identificação entre a “ciência dos cientistas” e a “ciência da escola” pareça de fácil compreensão, lembramos que, tendo como referência o conhecimento científico, a disciplina de ciências ensinada na escola exige “transposição didática”.

          A transposição didática refere-se a um processo em que o saber científico passa por uma série de transformações e adaptações até constituir-se em “saber ensinado”. Isso ocorre porque o conhecimento científico, ao se transformar em conteúdo escolar, sofre um processo de descontextualização e transformação para tornar-se um conteúdo a ser aprendido no contexto escolar. A ciência escolar, portanto, não se identifica integralmente com o conhecimento científico, uma vez que esse conhecimento deve ser submetido a um processo de transformação para que possa ser apreendido pelas crianças.

          Ao pensar o ensino de ciências, a primeira questão que se apresenta é a importância que os conhecimentos científicos têm para a vida das crianças, principalmente quanto às demandas sociais em decorrência do desenvolvimento tecnológico e científico. Sabe-se que a criança constrói seus conceitos e apreende de modo mais significativo o ambiente que a rodeia, mediante a apropriação e a compreensão dos significados apresentados no ensino de ciências naturais. Embora o conhecimento científico aconteça de diversas formas e em diferentes ambientes, é na escola que os conceitos científicos são normalmente introduzidos de forma sistematizada. Por outro lado, os alunos encontram não apenas dificuldades conceituais, mas enfrentam problemas no uso de estratégias de raciocínio e solução de problemas, na leitura e interpretação de textos próprios do trabalho científico, que precisam ser consideradas.

           As atividades de ensino empregadas nas aulas de ciências, assim como nas demais disciplinas escolares, devem ser planejadas de modo que as ideias, as teorias e o conhecimento que os alunos trazem para a escola, possam ser aproveitados, completados e desenvolvidos. A aprendizagem consistente de novos conteúdos requer mudanças conceituais similares àquelas observadas na produção do conhecimento científico em que hipóteses e teorias anteriormente vigentes são reformuladas ou substituídas, envolvendo rupturas e mudanças de rumo. Assim, durante o processo de aprendizagem, espera-se que, ao longo do tempo, o indivíduo abandone concepções inadequadas do ponto de vista científico e as substitua por concepções cientificamente aceitáveis.

 Textos organizados pelas autoras: Lízia Maria Porto Ramos e Amélia Pereira Batista Porto. Fonte: Um olhar comprometido com o ensino de ciências / Amélia Porto, Lízia Ramos, Sheila Goulart.  Belo Horizonte: Editora FAPI, 2009.

Sugestão de link sobre o assunto

MOÇO, Anderson. Iniciação científica nas séries iniciais. Disponível em:






Nenhum comentário:

Postar um comentário